quinta-feira, 7 de julho de 2011

Metodologia do personagens

Introdução:

Neste artigo vamos explorar o elemento personagem, conhecer os dois tipos existentes segundo a literatura e demais formas narrativas, assim como uma ligeira olhada no método Freudiano da formação da personalidade.

Personagens planos:

Podemos chamar de personagem Plano todo aquele que é bidimensional, superficial e previsível. Então, esses Personagens 2D (bidimensionais) são muitas vezes maquineístas, como nos desenhos de Tom & Jerry, Popeye e outros do gênero, onde sempre há um mocinho e um bandido, como nos antigos Faroestes americanos. Os personagens Planos também nunca mudam com o decorrer da história, se são bons no inicio serão bons no final, são agentes da Constância.

Estes personagens são sempre coadjuvantes ou adjuvantes nos filmes e na literatura, assim como nos outros meios narrativos e podemos identificá-los através de suas características cheias de estilo, divertidas e que podem ser rapidamente percebidas pelo olhar de um observador superficial. Como exemplos, podemos citar os personagens do estilo Dungeon Crawler que são comumente construídos sem nenhuma preocupação com a história e a personalidade, já que estas não agregarão nenhum valor à aventura (a moral, os dilemas e os conflitos existenciais não são necessários para matar monstros e rastejar por túneis fétidos e escuros!), outra amostra de personagens planos são os dos filmes de ação como Rambo, Stallone cobra, Vingador do futuro e por ai vai, pois são personagens que nunca mudam (a não ser de armas) durante o desenrolar do filme.


Os personagens planos podem parecer estáticos, sem alma e mesmo irreais, podem até ser isso, porém são necessários em qualquer tipo de aventura ou história. Criar personagens complexos e humanos dá muito trabalho e leva mais tempo que o normal, além do que nem todas as pessoas e personagens são profundos.

Personagens esféricos:

Ao contrário dos personagens planos, os esféricos são imprevisíveis, complexos e Tridimensionais. São personagens de grande densidade psicológica, podendo sofrer mudanças no decorrer da história e podem, da mesma maneira, influenciar a mudança em outros personagens.

Enquanto que os personagens planos podem ser rapidamente identificados e entendidos num primeiro olhar, o personagem tridimensional é capaz de nos surpreender a cada momento, fugindo do estereótipo e dos tipos convencionais. Um personagem esférico não é simplesmente bom ou mal, entre outros conceitos já estabelecidos, mas sim um ser constituído de vários sentimentos, conflitos, motivações e sonhos todos ligados de uma maneira a constituir uma personalidade crível e densa, capaz de simular a natureza e o comportamento de uma pessoal real. O detalhamento e o encadeamento das idéias contidas neste tipo de personagem são coesos e sempre justificam a substancia da personalidade que ele possui.


Bons exemplos de personagens esféricos podem ser encontrados em filmes e na literatura, como o protagonista do filme Na natureza selvagem e o do livro A morte de Ivan Ilich, que são personagens profundos, criveis e humanos. Os personagens tridimensionais tomam mais tempo para serem criados e exigem maior trabalho e atenção do autor ou narrador, entretanto eles produzem historias e aventuras bem mais divertidas e duradouras, não sendo lembrados apenas por seu enorme poder de destruição e ou frases de efeito, mas sim por seu poder de envolvimento com a historia e os personagens.

Freud explica:

Segundo Freud, a personalidade de um indivíduo é formada por dois elementos, o primeiro é a herança genética, ou seja, traços de personalidade oriundos dos genes dos pais, e o segundo são as experiências de vida, tudo que vivenciamos enquanto vivos. Freud diz também que, a personalidade da pessoa estará formada até os cinco anos de idade e depois disso será quase impossível mudá-la.

Para entendermos melhor essa matemática abstrata, vamos analisar um personagem fictício. Imagine um menino que foi criado de maneira super protetora pelos pais, o que se pode esperar de um adulto com essa infância? Provavelmente não será alguém decidido, corajoso, descolado e persistente, mas sim um adulto inseguro, mimado, tendencioso a fugir dos problemas esperando que outros resolvam as suas dificuldades. Também é muito provável que essas fraquezas de personalidade tenham sido agravadas na adolescência, onde ele sofreu com o preconceito juvenil, com a crueldade dos jovens e com a sua própria falta de coragem para enfrentar estes obstáculos comuns a vida. Portanto, voltando a formula de Freud, percebemos que o menino acabou criando uma visão amena e ingênua da vida devido aos excessos de zelo dos seus pais, o que o aleijou para a realidade da vida, que é dura, fria e cruel com aqueles que não possuem as ferramentas básicas de sobrevivência.

Pessoalmente gosto muito deste método, sinceramente não saberia afirmar se este é o modo correto de formular uma personalidade, entretanto venho usando-o já a um bom tempo e não tenho do que me queixar, pelo contrário, aprendi muito com o método Freudiano e quando analiso as pessoas que conheço, vejo que as suas personalidades se encaixam bem com os resultados do método.

Historia e personalidade:

Para criar um personagem, seja ele esférico ou plano, não é necessário inventar uma superestrutura tipo um portfólio com milhões de tópicos, categorizando a construção em partes, isto até serve para um rascunho e Briefing (coleta de dados), mas na hora de confeccionar o real personagem, é melhor dividir a coisa toda em duas áreas que chamaremos de historia ou histórico e personalidade. É importante salientar que, essas duas áreas devem se relacionar e interferir uma na outra no momento da construção, pois a historia, ou seja, a experiência de vida do personagem é a justificativa para a personalidade e o comportamento deste, assim como estes são a as razões por detrás dos atos do personagem em sua historia de vida. Construindo a coisa deste jeito, a identidade do personagem assumirá uma forma mais orgânica e não parecerá com um Curriculum Vitae.

Na parte do histórico, é interessante e prático priorizar os momentos mais importantes da vida do personagem, aqueles eventos que ajudaram a moldar a psique e a definir os seus objetivos. O bom é começar pela infância, passar pela adolescência, chegar à idade adulta e ai por diante, claro que isso dependerá da idade do personagem, mas ainda assim é valido para qualquer tipo de historia, afinal é o básico. A forma com que se descreve a historia é definida por quem vai escrevê-la, mas é necessário que ela seja bem detalhada na medida do possível, para que possa tornar o personagem mais interessante, vivido e distinto.

Na área da personalidade, deve-se tratar de dois elementos que são: a natureza e o comportamento. A natureza consiste naquilo que o personagem realmente é, ou seja, a sua psique formada por princípios, códigos morais, sentimentos, desejos, traumas, filosofias, motivações e entre outras coisas. O comportamento é conjunto de aspectos que definem o personagem através do olhar alheio, isto é, a maneira que ele se porta diante dos outros, pois as pessoas tendem a esconder o seu verdadeiro Eu daqueles ao seu redor. Uma personalidade consistente é o mínimo que se pode ter para fazer com que um personagem consiga lidar com as mais variadas adversidades propostas em uma aventura de RPG. Enquanto que a natureza é algo abstrato, subjetivo, complexo e até mesmo contraditório, o comportamento tende a ser encaixado e definido por conceitos objetivos através dos olhares alheios, como por exemplo, bom ou mal, corajoso ou covarde, rude ou educado e outros mais. O melhor é que o comportamento, de modo sutil, denuncie a natureza do personagem.

Considerações finais:

O que realmente importa é que os personagens estejam adequados ao tipo de historia a ser narrada, sem que isso entre em conflito com o gosto e o divertimento de cada jogador, sem falar na diversão alheia, que muitas vezes é perturbada por jogadores e seus personagens sem noção alguma do que é jogar RPG. No momento em que dermos mais valor ao personagem, perceberemos que as sessões de jogo serão mais produtivas e proveitosas, então é só plantar e colher os frutos!

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